quinta-feira, janeiro 28, 2010

a poesia do inconsciente

















eu quero chover
em fumaça condensada
quero acordar com
todos os dentes na boca
quero armar e atirar
na têmpora da irritação
quero assassinar meu suicídio
antecipar o homicídio
decaído em precipício
quero amassar aquela carta
quero atirar o avião de papel
pela janela, e quero
vê-lo cair
quero que a umidade seque
quero meu quarto frio
quero conforto de infância
quero colo de mãe
quero mãe que dê colo
quero um sonho feliz
eu quero pescar um peixe
e devolvê-lo ao mar
quero sentir as náuseas
e vomitar, eu quero
nadar em águas sólidas
da divisão insosa do calor
calor úmido e incômodo
fonte da irritação
quero rever as minhas
bases, quero palavrear
somente bençãos
a palavra tem poder
você já me disse
não esqueço o que me diz
ao contrário do que disse
quero me lembrar do que é bom
quero o bem que vem sem
delírios de vontade
sem a típica ansiedade
quero só a verdade
a simplicidade do mato
cantoria de sapo
bota e sapato
sujeira limpa de fato
cansaço que faz dormir
eu quero que deus volte
daquele velho túmulo
que eu o enterrei
quero a paz que dispensei
eu quero o tempo mais lento
ou ao menos pra mim
eu quero ocupações
preciso das suas sugestões
ouço o que me diz
ao contrário do que me disse
eu quero aquilo que vale
quero morar num safari
quero ver os bichinhos
a se entulhar
quero sofrer as causas naturais
quero as minhas raízes
quero galhos secos
quero macaquear
fugir e caçar
eu não quero me relacionar

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