Anjo Flôr
Assim eu chamava
a nossa filha
Hospedados estávamos
em Parati, um evento
glamuroso
A cidade já era
semi-submersa
era de se lembrar
Veneza, haviam
hotéis suspensos
sobre a água,
um tanto assustadores
Me parecia um futuro
não tão distante
Éramos recebidos
por amigos
Carregávamos mochilas grandes
com grandes criações
Raros eram os banheiros
engraçado serem miniaturas
como feitos para anões
Ou seríamos nós como gigantes?
Havia uma casa clara perto do mar
um mac na mesa, pintava ali bananeiras
você solicitava meu amor, como sempre fez
e nos amávamos com o mar a decorar
o pano de fundo
Fomos despensados de alguns
compromissos, e ríamos
pois o que queríamos era
nos libertar das correntes
Haviam também algumas preocupações
o vício me ensinou o cuidado com as paixões
Seus olhos opacos, por favor não
Me parecia dia de casamento
E eu mesmo, longe de ser santo
benzia aquela água, num vasilhame de alumínio,
afim de lavar as suas mãos
Orava por ti, e por nós
Eram memórias futuras
com medos meus
com a persistência da memória
Num equilíbrio sobre o fio sem pontas do tempo,
caminhávamos sobre este destino traçado
Anjo Flôr
chamava assim nossa filhinha
F.E.